falling: mnem para zoey montgomery

Zoey cutucava um esvoaçante Tincampy com a ponta dos dedos, ora acertando ora errando, mas sem nunca deixar de tentar acertá-lo em pleno ar. Sendo pequeno como uma bola de pingue-pongue, seu mini-golem era veloz em seus zigue-zagues no ar, podendo quase ser confundido com um inseto gigante e dourado. Suspirou pesadamente e então encostou-se a uma das árvores que rodeavam o jardim de sua casa em Nova Roma.

Sua mãe, uma ex-legionária da Segunda Coorte e filha de Belona, não estava em casa naquele momento afinal a mesma possuía uma loja de armas na cidade. Claro que a semideusa ajudava sua progenitora sempre que podia, mas aquele era seu dia de folga e Dane estaria lá para socorrer a Montgomery mais velha caso fosse preciso, então sem seus afazeres diários – uma vez que havia terminado todos – Zoey espreguiçou-se e colocou-se de pé.

Alongou o corpo rapidamente e prendeu os cabelos em um rabo de cavalo alto, a fim de dar um passeio. Ajeitou Ebony e Ivory nos prendedores em sua perna e conferiu para ver se seu colar estava ali. Mesmo que Nova Roma fosse completa e totalmente segura a jovem nunca saía de casa sem suas armas ou sem estar devidamente trajada com suas vestes especiais.

As luvas pretas cobriam as mãos delicadas, assim como a leggin preta por baixo da saia cobria as pernas torneadas dos exercícios militares que fazia todas as manhãs com sua mãe. Mangas longas mesmo no calor e botinha nos pés, a jovem Montgomery tinha plena consciência que se fosse descuidada podia matar uma pessoa, mesmo que sem querer, devido sua condição peculiar.

Com a ponta dos dedos tocou os cristais em seu peito, cravados como um lembrete doloroso de que jamais poderia levar uma vida normal. Balançou a cabeça e deu dois tapinhas de leve no rosto, rumou para dentro de casa passando pela cozinha e depois pela sala, pegando seu boné no porta-chapéus e indo em direção à saída. Em seu ombro e devidamente protegido, Tincampy seguia como o fiel escudeiro que era, embora muitas vezes Montgomery tivesse suas dúvidas.

Sabia que Tim era o mascote do Noah que habitava seu corpo, projetado e dado a ele por um de seus “amigos”, Marian Cross. Após a suposta morte de Neah, Cross havia adulterado algumas coisas das memórias e “programações” básicas daquela pequena bolinha e simplesmente a entregou para Montgomery quando se viram pela primeira vez. Aprendeu a confiar em Tim, claro, mas na mesma intensidade aprendeu que não deveria colocar uma fé cega nele.

Suspirou pesadamente e enfiou as mãos nos bolsos frontais de seu casaco, o sol brilhando forte no céu. Pensou em seus companheiros de Coorte, que estavam dando um duro danado em suas tarefas mas não a menina, pois estava de “folga” merecida lhe fornecida pela Pretora. Logo o tédio tomou conta do corpo pequeno, então depois de fazer seus afazeres domésticos e deixar a casa limpa e cheirosa a moça sentou-se no quintal e depois de uns cinco minutos... Bem, chegou onde estava agora, caminhando pela rua de sua casa.

Não estava distante, claro, ainda era possível ver a cerca branca e baixa rodeada de margaridas e rosas. Teria que olhar, mais tarde, a horta de sua mãe e molhar a pequena plantação que havia em seu quintal, pois no momento estava muito quente e poderia queimar as folhas das hortaliças.

Olhos atentos, observou a vizinhança tranquila, acenando para algumas pessoas que lhe cumprimentavam. Ex-legionários que hoje construíram famílias e viviam uma vida tranquila e pacífica em Nova Roma, cuidando de seus filhos e de seus negócios, orgulhosos combatentes da Legião.

Sorriu para si mesma, pensando se algum dia teria uma vida daquelas também. Casamento e família nunca passaram por sua cabeça, ainda era jovem para perder tempo com essas coisas e, antes que pudesse divagar mais sobre aquilo algo chamou sua atenção. Zoey era naturalmente curiosa, e quando viu uma rosa tão bela saindo do asfalto não perdeu tempo em se aproximar para vê-la, talvez até tirá-la de lá.

Não tinha parentesco com Ceres ou Prosérpina, mas certamente sabia que se cortasse a raiz daquela planta dentro da água ela não morreria, pelo contrário, continuaria viva e bela. Sorriu consigo mesma e abaixou-se após ver que não havia nenhum carro vindo e segurou-a pelo caule, sentindo uma dor em um ponto específico do dedo indicador.

Soltou rapidamente a planta, puxando a mão junto ao corpo.

E, de repente, sua visão ficou turva antes de escurecer por completo.

Ademais:

Abrir os olhos foi quase como um tormento.

Sua cabeça girava como um peão e um zunido infernal em seus ouvidos lhe dava dor de cabeça, embora não soubesse exatamente de onde estava vindo aquele barulho, se era do ambiente ou se era de dentro de sua própria cabeça. Zoey piscou algumas vezes antes de, finalmente, firmar em um ponto fiz no... Teto? Franziu a testa, um vinco que deixaria rugas provavelmente no futuro, mas aquilo não importava por hora afinal não sabia onde estava e aquilo sim era assustador.

Respirou fundo pelo nariz, escutando a voz de Neah em algum canto de sua mente mas ignorando-o pois não tinha tempo para lidar com os ataques de pelanca do Noah. Tinha que raciocinar e, ao tentar se mover, constatou que estava presa pelos membros e aquilo era ruim... Bem, na verdade era muito mais do que ruim.

"Ok Zoey, se acalme."

Agora que estava mais desperta, correu os olhos pelo local e constatou que estava em um local que parecia um laboratório: abaixo de si, finalmente sentiu, havia algo duro e gelado. Uma bancada talvez? Tornou a olhar ao redor e alguns aparelhos estranhos e muitas coisas metálicas, como se fosse um laboratório de experiências. Engoliu em seco, nervosa com aquela situação no geral.

Procurou por Timcanpy, querendo mais do que tudo encontrá-lo, mas infelizmente o que viu lhe embrulhou o estômago: não que fosse algo nojento mas sim por se tratar de quatro homens, todos vestidos de branco, os jalecos muito bem colocados sobre os ombros e aquilo fez Montgomery ter arrepios de medo. Eles pareciam olhar algo que brilhava, uma tela talvez, e com os nervos à flor da pele a semideusa só conseguiu pensar em uma coisa: suas luvas. Se tivesse sorte, e se conseguisse mexer pelo menos um pouco, ela conseguiria tirar as mesmas e usaria sua "condição" para derreter as algemas que lhe prendiam.

Tudo que podia fazer no momento era rezar por um milagre.

Ademais: