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Lilith Doutzen
Feiticeiras de Circe

Publicado por Lilith Doutzen Ter Set 28 2021, 09:58



infinite



The day that Saturn rose instead of the moon, most people panicked.

No, that’s incorrect. The moon was not replaced, simply joined. Saturn rose beside it each night, filling the night sky with its vast expanse. It blinded the stars. News channels suddenly seemed to only broadcast about the speed in which the planet was approaching us.

Half of the population pretended to accept their final days, while the others tried to get saved in as many religions as possible.

Me?

I was not panicked.
When a person wakes up every day believing they’ll die, things like this don’t scare them much. For me, the slowly approaching planet was another obstacle to face. Another weight on my own shoulders.

So I continued my life, watching people run in circles around me, trying to escape their doom.

“How can you be so calm?!” they shouted at me. “The world is ending!”

"My world is always ending" I usually replied.

And I almost began to feel love for the planet as it continued to approach us. The disastrous rising ocean levels were a thing of beauty. The melting ice, and the shifting of the planet as the gravity tugged at it, was a glorious transformation.

Saturn glowed purple, grey and rusty brown. The rings continued to circle around it as usual, and if I squinted, I could begin to make out asteroids flying past the planet. Saturn seemed so large, and gentle, and beautiful. It was hard to imagine it plowing into this world, destroying ages of technology, memory, and human life. It was enough to make you sad.

I found myself turning away from humans during this time. It was too painful to know that those frightened eyes you looked into would soon be specks of star, floating through the universe.

People didn’t seem to notice me when I was falling victim to the dark parts of my thoughts. After all, depression is a danger we have grown to ignore. But now that we faced our tangible fate, they thought I was different.

Courageous, I suppose.

Like every other night, tonight I was on the roof, facing my murderer.

Most of the time I could hear the thumping music from the parties of teens in the neighborhood. I suppose they were desperate to get some sort of satisfaction and happiness from their numbered days. Tonight, though, I heard nothing besides the soft cooing of sleepy birds in the trees, and sad, soft music drifting from our old neighbor’s house.

The music would usually annoy me: the sappy kind of love songs that elderly people like to listen to. Tonight, though, it seemed strangely appropriate.

Ironic, even.

We were being chased by a great destroyer, who would not think for a moment about crushing our planet into dust. Yet, we still had the hope to listen to love songs.

I laid back. The air was crisp and cold around me, and I could feel the wind rippling through my sweater. My eyes were glued to the planet, taking up the entire sky. It looked down at me, as small as an ant, outstretched on my roof. The impending light extinguished most of the stars. I raised a shaky hand to the sky, and began to count the remaining specks of light. A few weeks ago, it would have impossible to number the fire in the sky. But right now, I could count exactly four stars.

I counted them. And counted them again. Over and over, as if the fact that there were still four stars in the sky would put a halt to the planet.

The air was stiff with anticipation as far away, the deadly planet continued to approach.

I felt death close to me. Across the Earth, Saturn touched. The rumbling shattered the quiet air. This was it.

Living each day as if I was dying, exhausted by anxiety, I had learned to find beauty in the sadness.

And I could not deny that Saturn was beautiful.
— Grace Crandall

even after death you taught me the courage of stars before you left.
                          
                           
                             Lilith Doutzen                         
Lilith Doutzen
                           
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Lilith Doutzen
Feiticeiras de Circe

Publicado por Lilith Doutzen Ter Set 28 2021, 11:52



TRIUMPH


De novo, papai. De novo!
— Mais uma vez, sim? E então você vai dormir.

Concordou algumas vezes antes de deixar sua cabeça tombar contra o travesseiro e escutar as palavras que não compreendia bem – mas que nunca fizera muita questão de questionar.

— Estavam perdendo o anjo mais lindo que habitara o paraíso.  — começou, alisando os fios loiros da garota. — Por isso, quando nasceu, os céus choraram por sete dias e...
Sete noites!
— Isso mesmo. Tão bela que o reino parou para assisti-la ao sair do ventre. Os olhos mais verdes que já tinham visto.
Como eu, papai?
— Exatamente como você. A princesa, com toda aquela atenção, sorriu. Encantados, mal viram quando a rainha foi levada pela bruxa do Norte.
A princesa não tem mamãe?

O homem negou com a cabeça.

— O mago, que superou o encantamento mais rápido que todos os habitantes daquele reino, logo percebeu que estavam perdidos. O mundo cairia pela princesa de olhos verdes.

A versão do nascimento de sua única filha floreava o fato de que tinham sido abandonados pela deusa do inverno. O pai, entusiasmado com a rara atenção que recebia da filha, estendia a história até os dias mais atuais. Adicionava suas peripécias, suas descobertas.

Adicionava as peculiaridades da bonequinha de gelo.

Lilian não entendia muito bem do que aquela história tratava e, não muito tempo depois, teria de descobrir por conta própria. Como general do exército americano, não demorou para que o homem fosse chamado para o Iraque.

there is a house in charming town

Foi quando conheceu o inferno pela primeira vez.

O Internato Branksome para meninas era um local acolhedor, se não fosse o temperamento difícil da garota Marshall.

Estava revoltada.

Era compreensível. Desde seu nascimento, não havia passado nem mesmo um dia sem o pai; de repente, passaria seis meses sem vê-lo. E também não se deveria ignorar o fato de que tinha sido muito mimada.

Ao se ver submissa às mais de cem páginas do regulamento que a Branksome Hall dispunha, viu-se encurralada.

Por isso, seus poderes não demoraram muito para se manifestar. Em seu terceiro mês, fez nevar sobre a garota que tinha puxado seus cabelos. Depois disso, foi fácil perceber que as garotas más tinham o que queriam mais facilmente.

they call the rising sun

Houve um momento estranho quando se encontraram.

Você me abandonou.
— Lilith, sabe que não é verdade.
Eu fiquei sozinha. Eu não tinha um quarto só para mim e eu também não tinha ninguém para brincar.
— E as meninas?
Eu não queria brincar com elas! Elas eram más. Faziam coisas comigo. Foi muito difícil!

Os olhos marejados da criança deixavam claro que todas as palavras ditas eram reais – pelo menos uma parcela delas. Essa última parte, contada de forma calculada, eram apenas palavras vazias, críveis pelas lágrimas que saltavam de seu rosto. E quando o velho Marshall, que agora tinha parte de suas ideias prejudicadas pelos traumas que vivera, acreditou nela e a embalou em seus braços, sorriu.

— Já acabou, pequenina. — Murmurou contra os cabelos, que, durante aquele inverno, tomaram um tom ainda mais claro. — Você pode ficar tranquila.
Eu não vou ter que voltar?
— Não. Mas eu preciso que me faça um favor. Eu sei que vai ser difícil, mas você precisa ao menos tentar.
O que é?
— Eu fiz uma amiguinha durante a viagem. A mamãe e o papai dela foram levados pela mesma bruxa que levou a mamãe da princesa, sabe? Então eu disse a ela que ela poderia passar um tempo aqui em casa.
Ela é bonita?
— Linda. Mas nada se compara a você. Posso chamá-la?

Carrancuda, Lilian acenou positivamente, sentando-se no banquinho do piano enquanto aguardava.

Para Anastácia, exibiu uma faceta gentil e agradável. Era uma adolescente bonita, traços bonitos, marcantes, e sorriso doce. Ficou no quarto de hóspedes, que logo ganhou personalidade.

No fim das contas, até que gostava dela.

Porque depois que seu pai voltou, as memórias já não estavam mais intactas. Já não era capaz de contar sobre a princesa do reino de gelo, sobre a Bruxa do Norte, sobre a mãe perdida na floresta.

Na verdade, a maioria das vezes era incapaz de se lembrar que a mulher que gerara Lilian tinha ido embora. E isso só estava piorando.

Anastácia e suas curiosidades sobre os inúmeros países que conheceu antes dos Estados Unidos já eram mais interessantes que as memórias distorcidas de um velho traumatizado.

Até porque, Lilian Marshall precisava ser a melhor.

it's been the ruin of many a poor girl

Não tardou muito para que o senhor Marshall fosse chamado outra vez pelo exército.

Pai?
— Aqui, princesa.

Atravessou a porta do quarto, sentando-se na beirada da cama, enquanto assistia o homem ajustar os botões da farda contra o peito. O sol não tinha nascido ainda, a iluminação do par de abajures em cada lado da cama proporcionava um brilho ínfimo comparado à lua que banhava a pequena família que parecia conformada com aquela rotina.

Lilian não estava. Longe, muito longe disso. Pensava em quanto tempo levaria até que voltasse. Se voltaria bem, se seria feio, se sua memória acabaria muito distorcida para que conseguissem falar sobre o jogo de domingo de manhã.

Seu pai estava partindo mais uma vez e a garota Marshall não tinha destino, data de retorno ou qualquer garantia de que o veria novamente.

Mas estava acostumada às incertezas. Ainda que não as aceitasse.

— Você me ajuda com os botões?

Uma última vez, assentiu. Ajustou os botões do casaco da farda do homem, antes de ajustar as golas e a boina. Sorriu, lágrimas crescendo em seus olhos verdes, brotando como pequenas gotas numa chuva de verão.

A buzina soou lá embaixo.

— Sua mãe está esperando.
O exército que vai te levar, lembra papai? Mamãe teve de sair mais cedo para...
— Mas não amanheceu ainda. — O velho interrompeu.
Ela teve problemas com a Bruxa do Norte

O homem assentiu confuso, antes de descer as escadas com Lilian em seu encalço.

— Você vai estar aqui quando eu voltar?
Sim senhor, como sempre.

A mentira saiu arrastada, casual. Sabia que depois daquele dia, só voltaria a vê-lo cinco anos depois. Não havia lugar para Lilian em uma cidade tão pequena.

Resolveu que não poderia ficar mais naquela casa e o mundo parecia conspirar ao seu favor. Porque na semana que terminou de planejar sua fuga ensaiada, ele apareceu.

Eram muito parecidos. Os traços que não puxara ao seu pai estavam presentes no rapaz tanto quanto estavam nela. Tinha uma pose confiante e um sorriso que indicava que ele não estava parado em frente à última casa da Estrada Penncross por coincidência.

Mas então ele sumiu. Bem na frente de seus olhos. Quando reapareceu, tinha a mão tapando a boca da criança, que agora se debatia contra o aperto do corpo do homem.

— Lilian Marshall, certo? Fique calma. Eu posso te ajudar.

Acenou positivamente e deixou-se acalmar, antes que ele se afastasse dela, erguendo as mãos acima de sua cabeça.

— Quíron pediu para resgatá-la.
Quem?
— Olha, eu não tenho muito tempo. Preciso te levar antes que eles cheguem.
Me levar pra onde? Quem chegue?
— Sequestradores. Você precisa confiar em mim, vou te levar pra um lugar onde você vai poder fazer nevar sem ser censurada.
Como…
— Vamos, eu te explico no caminho. Por favor?

O rapaz encarou a janela brevemente, antes de chamar com a mão e apontar um pequeno grupo parado no meio da rua, com um cachorro que tinha o porte de um… elefante. As próprias mãos cobriram sua boca para silenciar o grito que se formou em sua garganta. Eles agora apontavam para a casa onde estava.

— Não temos tempo. Você precisa vir agora.
E minha irmã?
— Ela estará a salvo, venha.

Aquilo ia contra tudo o que tinha aprendido. O homem era um desconhecido, muito mais velho que a menina e sabia demais. Mas ele tinha uma ideia muito melhor que a fuga que tinha planejado.

— Você conhece algo de Nova Iorque?
A estátua da Liberdade?
— Tudo bem, você precisa pensar nela muito bem. Agora pise nisso aqui.

Acenou positivamente. Visualizou a pequena porção de terra que tinha em volta da base da estátua onde tinha feito um piquenique e, ao pisar na pedra, sentiu-se ser sugada para longe do velho casarão.

and me, oh god, i’m one

A imagem da Estátua passou em um relance por seus olhos, antes que sentisse o puxão em sua mão. Logo, corriam para furtar, como dissera Adam, uma das lanchas paradas no píer.

Não levou muito tempo para que estivessem parados frente a uma rua movimentada de Nova Iorque

E agora?
— Agora, nos separamos. — Jogou uma moeda grande no chão, antes de voltar a falar — Stêthi, Ô hárma diabolês!
Carruagem da danação?
— Viu? Grega mesmo! Quando elas pararem, corra para dentro da floresta. Vai ver o portal rapidinho, sim? Foi um prazer, Lilian Marshall. Se precisar de mim, peça para Quíron me chamar, sim?
E como é o seu nome?
— Nicholas. Nicholas Capuozzi.

i'm staying here to end my life, down in the rising sun

O sexto aniversário de Lilith que seria comemorado no acampamento estava chegando.

O sexto aniversário sem seu pai.

Não importava muito. Nicholas garantira que ele estava bem – mas não exatamente são.

No fim das contas, tudo se resumia ao meio irmão. Foi ele quem escolheu um novo internato em Nova Iorque, providenciou sua mudança, comprou um apartamento, as roupas novas e contratou Lawford, seu motorista. Foi ele quem sugeriu um novo nome.

Ele também havia aprovado sua escolha, mas tinha reclamado um pouco quando a semidivina optou por um sobrenome que vira na capa da Vogue.

Ninguém de sua antiga vida a encontraria se ela não quisesse, prometeu.

— Lilith? Quíron pediu para te chamar.

Assentiu, antes de sair de seu treinamento para caminhar até a Casa Grande. O centauro a encarava com pesar quando adentrou a sala, como se fosse lhe contar a pior notícia do mundo

De fato, meio que era.

O que houve?
— Nicholas está desaparecido.


ARMAS:
                          
                           
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Publicado por Ex-Staff 014 Ter Set 28 2021, 22:51

avaliação
Eu realmente adoro a forma como você narra. Essas divisões súbitas com frases são muito legais e envolventes, e isso é só um dos pontos positivos que encontrei no texto. A sua trama, mesmo que no início, é muito interessante, e eu me senti realmente curiosa enquanto lia. Já disse em outra avaliação que a personalidade de Lilith também é um bom adendo ao conteúdo, e continuo repetindo isso.

Parabéns pela bmo!

pontuação— Coerência: 40 de 40
— Coesão: 30 de 30
— Ortografia: 15 de 15
— Organização: 15 de 15

Total: 100 * 7 = 700xp + 350 dracmas

atualizado.

MONTY
                          
                           
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Lilith Doutzen
Feiticeiras de Circe

Publicado por Lilith Doutzen Seg Out 04 2021, 00:57



FAMILY POWER


Voltar para Nova Iorque significava voltar para casa. O apartamento caro com uma vista bonita para o jardim interno de uma das torres do presidente. Significava voltar para uma realidade a qual não sabia exatamente como enfrentar. Não haveria música alta, sangue seco no chão, cheiro de sexo no ar ou um irmão que chegava aos trinta e poucos anos um tanto velho e rabugento. Não haveria nada, no fim das contas. O apartamento estaria impecável como havia deixado antes de partir.

Despedir-se do bar foi exaustivo.  Lilith sabia que não seria fácil. Porque passara o feriado ocupada a tinha feito esquecer – ainda que minimamente – o caos que sua vida seria sem o irmão. Agora, dentro do táxi estranho disposto aos semideuses, desejava ter mandado Lawford embora. Mas vencida por um ego que nem sabia possuir, levantou-se cedo demais no after party e, roubando uma camisa social do armário de Carter, partiu, destinada a enfrentar o que quer que fosse preciso para manter-se viva.

No fim, ao chegar no apartamento, tentou não sentir o pesar do luto. Buscou as sensações causadas pela bebedeira. Por Lawford. O carinho, a determinação de fazê-la se sentir... Incrível. Por algum tempo, funcionou bem. Estava distraída com seu cheiro impregnado na camisa, com a sensibilidade em seu corpo, com as marcas em sua pele. Mas o mundo lhe cobraria rápido.

A campainha tocou incessantemente por algum tempo. Saiu do banho enrolada em uma toalha para atender uma Tatiana cansada e um tanto chateada, mas que jamais se deixaria abalar que entrou e se sentou na bancada depois de abrir um vinho caro.

Isso é do...

— Nicholas, eu sei, Lily. Comprei pra ele. Não é como se ele fosse beber. Desculpe — Ela falava rápido, rápido demais. Lilith queria se aproximar mas não considerava seguro, não quando Volkov segurava um revólver preto e colocava as balas de forma descuidada. — Tenho alguns contatos espalhados. Eles virão, farão perguntas. Eu preciso ir embora, mas eles... eles vão te ajudar com isso. Se cuide. Eu preciso ir.

E, como sempre, a fumaça púrpura tomou o lugar da companhia de Doutzen, deixando uma garrafa quebrada manchar o piso.

when we were young we were the ones the kings and queens, we ruled the world

A campainha tocou enquanto Lilith tirava um cochilo confortável no sofá cinza. Seus olhos se prenderam na luz fraca da televisão que falava algo sobre um frio absurdo. Foi um segundo soar do barulho incômodo que se levantou para abrir a porta – ou atender um telefone distante, não sabia dizer bem, um sorriso esperançoso de quem já havia perdido tudo.

O barulho continuou mesmo depois de tentar atender o telefone, estressando-a o suficiente para que puxasse o trinco da porta com força, irritada em mais níveis do que poderia contar. O menino tinha um sorriso bonito no rosto, cabelos tons de fogo e porte atlético coberto por vestes comportadas.

— Lilith Doutzen? Em estou aqui em nome da Feiticeira Circe. Podemos conversar?

Quis rir. Seu corpo portava apenas uma adaga no coldre de perna, além de uma lingerie vermelha um tanto quanto apelativa. Deu espaço para que ele entrasse, os olhos presos nos dele por mais tempo do que seria socialmente aceitável.

Fique à vontade, vou colocar uma roupa, sim? — Sorriu, caminhando para dentro do quarto atrás de uma legging e uma camiseta, voltando menos exposta. — Então,  o que quer comigo?

Encarou-o em pé na sala, e esperou que ele desse conta da sua presença para que pudesse lhe contar o que fazia dentro do seu apartamento.

— Circe está sempre está em busca de artefatos mágicos, perdidos ou para serem roubados. Infelizmente, nenhum de seus habituais discípulos está disponível para essa missão. Ela já está de olho em você a bastante tempo, Lilith, mas só agora foi encontrar algo que pudesse barganhar. — Lilith sorriu, sábia. — Se ajudá-la a recuperar o item que ela deseja, ela irá ajudá-la a encontrar seu irmão.

Tentou não se afetar, mas aquilo era a única coisa que a fazia perder a compostura. Quando se deu conta, estava organizando as armas em seu corpo metodicamente, com a certeza de que estava tomando a decisão certa acima de qualquer situação moral.

Fechado.

Ele deu um sorriso de canto, bastante convencido, ao ver a garota prontamente aceitar a oferta.

— O item que Circe procura é este. — Ele lhe entregou um desenho muito bem detalhado, quase como uma fotografia, de uma espada. — O local para encontrá-la está logo abaixo.

Quase como uma nota de roda pé, podia-se ler: Gila Claw, Arizona.

— Aconselho não demorar, ela odeia esperar.

Acenou positivamente, caminhando em direção à saída junto com o garoto, conferindo se havia pego tudo para ir para o aeroporto local e tomar o primeiro voo para Phoenix, onde pegaria um carro até seu destino final, certa de que aquela seria a parte fácil da sua jornada.

no regrets, wish I could relive every single word

Foram as buzinas que tiraram Lilith do transe. Antes disso, sua mente divagava no desenho da arma, que agora já a deixava ansiosa. Como encontraria uma peça tão pequena em meio à imensidão que era o Ferro Velho dos Deuses?

Vai demorar?

É claro que iria. Deixou uma nota de 20 dólares no banco de trás e saiu, buscando atravessar o acidente que ocorrera e então pegar um táxi mais a frente em direção ao aeroporto. Bufou.

Caminhou alguns quarteirões até conseguir um carro numa parte mais desafogada do trânsito. Depois, no aeroporto, a balconista da American Airlines lhe deu atenção. Questionou Doutzen e por um momento, pensou em apresentar seu passaporte verdadeiro, mas no último segundo, resolveu por tirar o presente de Tatiana Volkov do bolso.

Olá. Eu estou em missão diplomática e preciso urgente de um voo para Phoenix.

Esticou o passaporte americano preto em direção à mulher, junto à carta de missão que nunca fora datada. E rezou para que aquilo fosse o suficiente para chegar ao Arizona sem grandes problemas.

— Phoenix... É isso mesmo? — Perguntou enquanto colocava os dados no computador.

Sorriu, revirando os olhos com tédio.

Oh meu deus, vocês não são mais instruídas? Missão diplomática, amor. Nossas malas viajam conosco, entramos e saímos primeiro e por que raios você não chamou a escolta ainda?

Suas palavras saiam impacientes, como se aquela situação fosse completamente atípica. Passou por cima do balcão três notas de cem, dispensando o troco de forma automática. A balconista a encarou por alguns segundos e depois se recompôs. Recolheu as cédulas do balcão. Deu um olhar furioso para a garota quando ouviu seu questionamento irônico, mas colocou um sorriso no rosto ao ver um rapaz gordinho e fardado se aproximando.

Já organizou minha entrada com os comissários ou preciso eu mesma fazer estas ligações?

— A segurança é alertada automaticamente quando damos entrada em passagens da sua... categoria. — Respondeu, devolvendo os documentos e virando a tela do monitor. — Este cavalheiro irá lhe indicar o caminho.

Sorriu de forma debochada, dando-lhe uma piscadela antes de levantar a alça de sua mala.

Cumpra com seu treinamento da próxima vez. Doug deve saber do tratamento que recebi.

A menção ao diretor de sua companhia deveria fazê-la estremecer, mas nunca parou para reparar. Apenas caminhou logo atrás do segurança, pronta para sobrevoar por algumas horas e de lá, alugar um esportivo caro para chegar a Gila Claw.

Quando saiu da zona urbana de Phoenix, Lilith pisou no acelerador. Embora seu voo tenha sido rápido, outro incompetente na locadora de veículos tirou sua paciência. Lilith considerou o aviso do atendente chato um desafio: ultrapassaria sim o limite de velocidade instituído pela Hertz.

O Audi A8 dançava na estrada como o possante que era. Não demorou mundo para chegar lá.

Gila Claw é uma cidade fantasma que podia ser encontrada bem no meio do Arizona, pontuada em apenas alguns mapas. Por sorte, o Audi, sistema alemão, considerava a existência da cidadela, e foi isso que a salvou de uma imensa viagem pra lugar nenhum.

O fez em apenas doze segundos. Depois, manteve a velocidade pela estrada reta até o fim, onde um amontoado de lixo chamou sua atenção. Freou bruscamente em um momento de reflexo, parando o carro há poucos metros do portão enferrujado. Abandonou o volante e parou logo atrás da porta, desamassando o desenho da arma. Quando o fez no entanto, o papel voou de sua mão, transformando-se em um aviãozinho e pousando no topo da montanha mais alta.

Uma dica de onde estava seu item.

Sualk, suba. Vigie e me conte se algo perigoso se aproximar.

Hefesto era bastante apegado às suas coisas, mesmo que elas não funcionassem direito. O ferro-velho era conhecido por ser o local onde o deus da forja dispensa suas criações, e por saber de seus potenciais ele optava por protegê-las. No solo, podia-se ouvir latidos estranhos, como se fossem uma gravação de má qualidade. No ar, o som agudo e rápido de mecanismos mal lubrificados.

Seus olhos encontraram os três autômatos sem muito trabalho, já que não eram nem muito pequenos nem lhe pareciam inofensivos. Dito isso, sua cabeça começou a mirabolar muitas ideias para que saísse ilesa, mas só uma veio na sua mente com a certeza que daria certo.

Mãos direcionadas ao chão, concentrou-se, batendo o pé com força para que as estacas eclodissem o mais rapidamente possível, na direção do peito do trio de cães, antes que direcionasse sua mente para uma ação mais simples.

Correr ferro velho a dentro.

Os três cães tentaram desviar do seu golpe. O primeiro, foi empalado. O gelo atravessava seu tórax de um lado a outro. Já o segundo teve um pouco mais de sorte: a ponta da estalagmite perfurou sua pata dianteira, prendendo-o e tirando-o do chão enquanto o último cão pulou, com sucesso, para trás e rosnou para a mulher, correndo em sua direção na sequência.

Preocupada que não seria rápida o suficiente, concentrou-se em criar uma parede de gelo logo atrás de si, confiante de que aquilo o atordoaria – ainda que sutilmente, dando-lhe tempo para escalar a torre de destroços onde seu aviãozinho de papel havia pousado.

Talvez não tivesse pensado nisso inicialmente. Ao levantar a muralha, Lilith fechou a passagem entre duas pilhas de entulho. O canino ficou para trás, tentando – sem sucesso – escalar a pilha de destroços atrás de si.

Embora fosse extremamente boa em escalar, aquilo estava difícil demais. Por um momento, pensou em desistir, confiante de que nem Circe valia todas as suas forças. Foi então que Sualk apareceu. Ofereceu suporte para a semideusa, levando-a para o alto da pilha. Tomou a espada em suas mãos, encarando-a cuidadosamente. Era apenas uma espada. Nada demais.

Suspirou quando o venti a largou no chão, aliviada por sair quase ilesa. Encarou a parede de gelo por algum tempo, questionando-se se ela sumiria em algum momento, mas Sualk a tocou levemente, mostrando um caminho mais fácil.

Lá fora, a presença encostada no seu carro de forma confiante deixou claro de quem se tratava. Prestou atenção na caminhada, antes de levantar a mão pedindo por silêncio. A pulseira em seu braço cintilou suavemente, conforme se aproximava.

— Se quisesse, poderia ter pegado a espada sozinha. Me chamou porque me queria aqui e pediu algo pela qual eu daria a alma para ter de volta. Meu irmão. Você prometeu dados. Se os tivesse, significaria que Tatiana os teria também. O dado que você tem não me vale de nada, porque ele está morto, certo?

Implorou aos céus para que estivesse errada, para que a paranoia de Volkov a tivesse alcançado e se incrustado no fundo de sua alma. Implorou para cada um dos deuses do Olimpo para que aquilo não fosse verdade.

Mas no fundo, sabia que era.

— Vocês sabem o maior papel que os semideuses tem para mim? Me divertem enquanto realizam objetivos que eu não quero realizar para não me indispor com outras divindades. — Ela apontou para o portão. — Vocês acham que Hefesto não teria aparecido se EU invadisse seus domínios?

Deu de ombros, concordando.

— Sejamos realistas, eu não preciso de você. Eu quero você. E infelizmente, você está correta, ele se foi. — Ela deixou o silêncio dominar enquanto observava a reação de Lilith. — Mas eu ainda posso lhe oferecer algo: o poder de subjugar os responsáveis. Se aceitar, terá o poder que seu irmão buscava antes de deixar esse mundo.

Desvencilhou-se do toque para secar a lágrima que escorreu de seu olho esquerdo. E de repente, estava tudo lá.

O exército de Cronos invadindo o acampamento. Sangue, morte e caos para todos os lados. Uma Lilith de seis anos chorando piedosamente sobre o corpo de uma mulher mais velha; sua guardiã.

Seus cabelos claros estavam cobertos por uma camada de fuligem, hematomas por todo o seu corpo e muito sangue concentrado em sua testa. Podia sentir o cheiro forte. E então, um garoto com pose confiante se aproximou, espada apoiada no ombro, um sorriso zombeteiro e um relógio pesado de ouro exibido na canhota.

— Já desistiu, garotinha triste? — Sem respostas, o garoto se abaixou, apoiado nos calcanhares. — Ah, vamos lá. Você não quer ficar aqui, certo? Eu tenho uma casa bonita, um quarto quentinho.

Depois disso, tudo o que lembrava era de si mesma em uma cama quentinha num quarto cor de rosa, com vários bichinhos de pelúcia. Nicholas estava sentado na poltrona azul marinho, e sorriu ao vê-la acordar. Seus olhos azuis alcançaram os dele e Doutzen sentiu o mesmo que ele.

Reconhecimento.

Mas agora, nada daquilo importava.

Com um suspiro, acenou.

— Eu quero ir embora. Eu quero ir para a ilha.


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Publicado por Ex-Staff 014 Ter Out 05 2021, 14:16

avaliação
Olá! Muito bom ler a segunda parte dessa trama que você está desenvolvendo, e arrisco dizer que foi até melhor que a primeira. Gosto de como estão acontecendo as coisas e não vejo a hora de ter uma terceira, quarta e quinta parte. Parabéns!

pontuação— Coerência: 40 de 40
— Coesão: 30 de 30
— Ortografia: 15 de 15
— Organização: 15 de 15

Total: 100 * 7 = 700xp + 350 dracmas

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atualizado.

MONTY
                          
                           
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Lilith Doutzen
Feiticeiras de Circe

Publicado por Lilith Doutzen Sex Out 15 2021, 17:56



NOTHING LEFT TO LOSE



Gelo consumia cada uma de suas artérias, consumindo seu sangue pouco a pouco, até que gerasse nada além de dor por baixo de sua pele pálida. Mas aquele sentimento desapareceria logo, tinha certeza disso.

Era sempre assim. Sempre se consumia em uma espécie de hipotermia antes que tivesse alguma paz.

Sem seu amante, aquele sentimento era difícil de alcançar, mas resolveria aquilo logo, prometeu; de uma forma ou de outra.

Deitada sobre o asfalto da Estrada Penncross, observava o banco em frente à casa. Tinta branca se soltava da madeira, neve cobria as ripas que serviam de assento. Quando a porta se abriu, pôde vê-lo. Bengala ecoando contra a entrada antes que encontrasse a textura lamacenta. Sentou-se.

— Não está com frio?
— Está confortável, pai.
— Faz algum tempo.

Seu pai já não a encarava.

— Eu estou aqui agora, não estou?
— Por quanto tempo, Lilian?
— Pelo tempo que o senhor precisar que eu fique.
— Isso não é verdade, no entanto.

Levantou a cabeça da neve, para encontrar a feição sisuda do homem.

— Do que o senhor está falando?
— Você não estava aqui, Lilian.
— Pai.
— Quando eu morri, você não estava aqui.

Estava delirando, pensou. Não habitava em seu peito aquele tipo de maldade. Mas o velho continuou.

— Quando eu morri, você estava com ele.

Acordou com o fôlego lhe faltando. Neve cobria toda o lençol de seda que envolvia seu colchão. Nem ali, no que considerava seu habitat natural, podia descansar.

Precisava resolver aquilo.

Mas sua mente fugiu de Heron Devereaux rapidamente, porque o par de esmeraldas que preenchiam seus olhos logo encontraram a divina no canto do quarto.

— Você está um caos.
— É.

Eu sei.

— Não conversaram ainda?
— Não há o que conversar. Ele não vai me perdoar, Circe. Eu fui… cruel.
— Você tinha um bom motivo.

Lilith negou com a cabeça.

— Nada no mundo vai fazê-lo acreditar nisso.
— Entendo. Nem sempre o que está guardado dentro de nós é errado, Lilith.
— Bom, você venceu. Está feliz?
— Não. Estaria se fosse o fim de vocês. Mas isso me parece apenas um empecilho.
— Um empecilho…
— Um contratempo. Espero que isso não te custe a vida.

Levantou-se da cama, ignorando a presença da deusa na poltrona contra as vidraças. Trocou a roupa úmida por vestes enxutas, prendendo-se em um visual simples antes de se direcionar para a cozinha.

— Tenho um problema para você resolver.
— Você não cansa não? É literalmente o terceiro favor em o quê? Um mês?
— Sei que está em luto... ou qualquer coisa assim. Mas é em uma região congelada e…

Ergueu a mão para calá-la, enquanto lábios deixavam o líquido cor de caramelo atravessar sua boca e queimar sua garganta depois de servir o uísque em uma taça de vinho. A ausência de classe era apenas mais um dos sinais de que Doutzen não estava interessada.

Nem em Circe, nem em missões, nem em conselhos amorosos.

— Só me diga o que tenho que fazer. Eu sinceramente não me importo histórias tristes.
— Uma profecia muito antiga. Boatos correm. Trata-se de uma fênix.
— Tipo… o bicho que renasce das cinzas…
— Essa pertence ao reino do gelo. Tempestades de neve assolam a terra perdida.
— Entendo.

Mas, se nem mesmo prestava atenção, como tinha algo para entender?

A deusa sabia bem onde sua mente se encontrava. Olhos presos no horizonte não deixariam-na esquecer.

— Sem sua ajuda, o vilarejo estará… condenado.
— E o que te faz pensar que eu ligo, Circe?
— Um favor por outro, sabe como funciona.

Pensou em Heron.

— Ao menos estamos falando a minha língua.

late night sex, smokin' cigarettes i try real hard but i can't forget

Olheiras fundas e pupilas dilatadas deixavam cristalinos aos olhares curiosos de que Lilith não estava em um bom momento. Isso, somado às suas respostas espertas e completo desinteresse geraram à ela o primeiro contratempo.

Como a deusa bem tinha avisado.

Era escoltada para imigração canadense. Algemas prendiam seus pulsos, sua maleta estava escancarada próxima aos pés. Junto a ela, pendia apenas o relicário com a foto do homem que a abandonara dias antes.

Não haveria sorrisos, lábia ou casuais flertes que funcionassem ali.

— Ora ora ora, que mundo pequeno. É um prazer tê-la em nosso país, Lilian.
— Louis. Ça fait longtemps.
— Fugindo de novo?
— Não é mais do meu feitio.
— Só precisamos fazer algumas perguntas.

Rolou os olhos nas órbitas quando ouviu o sotaque carregado. Naquela parte do Canadá, tinha que fazer seu melhor para evitar hábitos novaiorquinos – tais falsos franceses não apreciavam suas respostas afiadas com um tom sensual.

Cordialidade era quase o sobrenome dos canadenses.

— Eu já estive aqui antes, qual o problema dessa vez?
— Soubemos que perdeu o que te prendia nos Estados Unidos, senhorita Marshall.
— Eu não estava vivendo com meu pai há algum tempo. Saí de Geórgia. Pode me soltar?

Foi ignorada.

— Nova Iorque, certo? Está longe de casa.
— O que me prende à Nova Iorque é outra coisa. As algemas, s’il vous plaît?
— E o que seria?
— Tenho um fundo de investimentos significativo em Wall Street.
— E qual o propósito de sua viagem, senhorita Marshall?
— Lazer. Sério, as algemas estão me machucando.
— O que há em Saguenay?

Lilith sentiu quando gelo envolveu as algemas.

— Me diga você.
— Eu não conheço.
— Nem eu, por isso estou indo para lá.

Faltava pouco para que a lâmina de aço – graças ao gelo que consumia o fecho das amarras metálicas – se rompesse. Precisava de tempo.

— Você não tem um bom motivo para me deportar, Bitepotelée.
— Este não é meu sobrenome
— Mas é um pouco de verdade. Afinal, pelo menos não usei a palavra petit, oui?
— Chega.
— Preciso contatar um advogado ou…
— A senhorita está livre, senhorita Marshall. Sebastian, solte-a.

Estendeu as mãos para frente, aço da algema estalando contra o vidro da pequena mesa que os separava.

— Como...
— Bem, você demorou demais. Eu pedi… como vocês dizem mesmo? Une douzaine de fois!
— Senhor…Nós conferimos as algemas, senhor, eu não sei o que...
— Chega. Tenha um bom passeio, senhorita Marshall.

Agora, apenas duzentos e vinte quilômetros separavam Doutzen de seu destino. E não sabia dizer se estava aterrorizada ou aliviada.

Olhos se perderem no horizonte.

— Eu não quero te machucar, Heron. Mas eu posso. Você viu o que eu fiz da outra vez. — Aproximou-se, tocando seu peito com a ponta da katana. Ouro Imperial empurrando contra seu coração. — Por favor, vamos conversar sobre isso.

— Se você não quer me machucar, eu sugiro que entre no carro alugado lá fora e nunca mais olhe para trás. Se eu te ver outra vez na minha frente, nenhuma quantidade de gelo e neve vai conseguir me interromper.

Sorriu, tirando a pedra do bolso, estendendo-a entre eles. Era uma ameaça vazia.

— Eu estou apaixonada por você. E não vou perder mais nada para os deuses. Pelo menos não por culpa minha.

E a deixou cair.

— Sinto muito por terminarmos assim. Mas foi divertido.


Não se viu sair da caverna. Nada mais aconteceu. Não naquele plano, pelo menos.

Mas no mundo real, a neve causava pouca aderência na pista. Isso, somado ao repentino sono a qual tinha sido acometida, foi o que causou o acidente.

O Mercedes que escolhera no aeroporto derrapou contra o acostamento. Capotou mais vezes do que conseguiria contar. No final, se via presa contra o aço azul do carro. O Sol se punha contra a água do Lac Labyrinthe, um lago bonito sinalizado por uma pequena placa. Sangue manchava sua testa alva, descendo contra os pelos claros da sobrancelha esquerda e esbarrando contra seus cílios.

Cheiro de gasolina se infiltrara em suas narinas. O calor das chamas lambia o tecido de suas roupas.

Não tinha a menor chance de sair por si só, pensou.

Mas podia recorrer à Circe. Afinal, não estaria ali se não fosse por ela. Tocou o cajado, que agora repousava sobre o vidro estilhaçado do teto solar

— Abeo Exorior.

Não havia para onde voltar, lembrou a semideusa. Percorreu uma hora depois de sair de Quebec e não se lembrava há quanto tempo não via uma única civilização. Era inútil percorrer caminhos que já havia feito.

Por isso, depois que conseguiu juntar todos seus pertences, viu-se atiçar o fogo com o casaco de pele que abandonou seu corpo, antes de jogar a peça escura em direção ao tanque que gotejava e formava uma poça holográfica contra o asfalto frio.

Já estava longe demais para ouvir a explosão. E também não demorou muito para que Lilith Doutzen se encontrasse em frente ao posto que era portal de entrada para a cidade de L’Étape. Cansaço consumia cada um de seus músculos, sangue grudava os cabelos platinados contra sua pele, mas ao menos o frio ajudava.

Lá dentro, lavou seus cabelos e testa na pia, tirando o líquido escarlate que sujava sua pele. Trocou as vestes por um vestido curto demais para o clima canadense. Saltos embalaram seus pés. Sorriu para a garota no espelho.

E, pensando em Tatiana, decidiu escolher uma vítima fácil.

O homem rico era jovem, tinha um sorriso suave contra a face e distraia-se com uma ligação que parecia desejada. A sua frente, a última geração do computador emitia um brilho fraco na maçã esculpida no material brilhoso.

Lembrava de alguém que naquele momento, preferia esquecer.

Empurrou-o para o fundo de sua mente junto com a echarpe, que agora caia como um lenço logo abaixo de seus ombros. A brisa mínima que o movimento emitiu foi o suficiente para atrair a atenção dele.

Quando levou os olhos azuis até os olhos violetas de Doutzen, o sorriso se alargou. A mão esquerda fez sinal para que ela se aproximasse e, como a cadela sem dono que pensava ser, dirigiu-se até sua mesa.

— Está perdida, ma chérie?
— Meu ex namorado me deixou aqui.

A mão dele tocou seus cabelos, empurrando-os para trás de sua orelha para examinar o ferimento.

— Foi ele que fez isso?
— Está tudo bem.
— Posso cuidar disso quando chegarmos na cidade. Está com frio?

Sorriu, lábio inferior tremendo contra os dentes quando o mordeu sutilmente.

— Um pouquinho.
— Vou apenas pagar minha conta. Quer alguma coisa? Um café talvez?

Negou sutilmente.

— Posso ir colocando as coisas em seu carro?

Estendeu a chave em sua direção. Quando se levantou em direção ao balcão, deixou o pesado sobretudo cinza cair sobre os ombros da mulher, ajeitando a echarpe contra suas correntes, demorando-se onde o contato das peles era feito. O chaveiro de aço da marca pesou em sua mão, um suspiro leve deixando os lábios tingidos de Doutzen.

Tinha sido mais fácil do que imaginava.

Caminhou em direção à saída, antes de correr contra o asfalto liso até o Audi preto parado próximo ao posto de gasolina.

Cogitou esperar.

Enquanto ligava o motor e encaixava a marcha para arrancar, pensou que talvez a companhia de alguém como ele lhe caísse bem. Talvez distraísse seus pensamentos, ajudasse em sua fase de desapego. No fim das contas, ele estaria sempre envolto por sua aura e poderiam até ter um relacionamento bobo, sem dificuldades ou pendências com a vida semidivina.

Poderia se esconder das divindades e viver uma vida mundana. Sem riscos.

Mas não gostou do arrepio que sentiu quando outras mãos, que não as do filho de Athena, tocaram sua pele. Nem de como aquele par de olhos azuis parecia muito mais com o de um caçador do que de um amante.

E principalmente, não gostava da ideia de simplesmente superar.

Foi isso que a fez acelerar assim que o homem passou pelas portas de vidro do pequeno abrigo.

Os outros cem quilômetros passaram depressa.

now i see that you and me were never meant to be

A cidade de Saguenay era um norte. Bem habitada, era difícil acreditar que encontraria profecias, mitos vivos ou até mesmo aldeões em um local daqueles. Mas era fato. O frio se intensificava daquele lado do mapa. Ventos fortes marcariam a pele de qualquer cidadão desavisado.

Nuvens espessas circundavam o Monte Valin, escondendo o cume. Pouco abaixo da neblina, o pequeno povoado de Sainte-Rose-du-Nord era assolado por um inverno muito mais rigoroso.

Descobrira isso tudo com um café no centro da cidade para qual tinha sido enviada, depois de se livrar do SUV preto e caminhar por muitos quilômetros.

Estava exausta e precisava de uma boa noite de sono.

Foi isso que a fez caminhar mais um pouco até o Hôtel du Fjord, onde conseguiu um quarto de emergência por uma dúzia de notas de cem dólares.

Mas quando a cabeça deitou contra o travesseiro, não viu seu pai, nem Heron, nem Circe.

Mas Friday.

Sobressaltou-se de repente, cobrindo o colo com os lençóis de seda.

— Quem puxou o gatilho, você ou ele?
— O quê?
— Vamos, garota, não tenho o dia todo.
— Bom, eu não tenho a noite toda e você está aqui enchendo meu saco.
— Estou curiosa.
— E eu não me importo.
— Garota chata. Já estive com ele, sei quem foi.

Deu de ombros, cansaço tomando o ato conforme recolhia as pernas para perto do corpo.

— Não importa. O que está fazendo aqui?
— O que prometi que faria, Lilith. Assistindo você brincar com fogo até queimar algo. Nesse caso…

Alguém.

— Se ele gostasse de mim, não teria fugido.
— Nada é tão simples.
— Nós éramos.
— Ele tem razão. Você é muito bonita. Bonita demais para o seu próprio bem. É por isso que destrói tudo o que toca.

but in a heartbeat i would do it all again

Tomou chá com a tribo da Rosa do Norte, comeu uma lebre assada em uma fogueira grande e observou em silêncio quando entoaram cânticos tradicionais. Tudo isso, como ensinara o líder, formava um ritual de proteção.

Não acreditava naquilo, nem na profecia, muito menos em sorte.

Mas acreditava em si mesma e no poder que os negócios inacabados possuíam. Foi isso que embalou sua expedição monte acima, lado a lado com Aibek, que cintilava sob a Lua Nova. A noite já chegara e horas se passaram até que encontrasse outro sinal de vida que não si mesma.

O trio de monstros era feio. Corpulentos como lutadores de boxe ou filhos de Herácles, as juntas eram cobertas de pelos mal cuidados, como um casaco abandonado. Partes íntimas cobertas por uma vestimenta rudimentar, cabeças de lobo encaixadas como uma fantasia de halloween.

Pensou em zombar da aparência, mas assim que reparou a desvantagem, optou por recuar e bolar um plano.

Plano que já tinha aplicado mil vezes e tinha funcionado até então.

Com os dedos no pingente, prendeu os olhos no segundo dos monstros, vendo quando o homem paralisou no local.

Antes de se virar para o terceiro, bateu com os pés contra o chão, para que doze estacas minassem o campo onde estavam lutando. Uma no centro de cada homem paralisado, outras quatro em seu entorno, garantindo o sucesso de Lilith. A outra, no entanto, foi desviada para o terceiro oponente, que correu em direção da mulher. Quando parou para rugir para ela, no entanto, a loira apontou em sua direção.

O corpo pesado do cinocéfalo sobrevoou a distância à sua frente, parando apenas quando suas costas esbarraram contra a estaca fria que prendia a primeira vítima de Doutzen.

Arrancou a Albtraum de sua bainha, correndo em direção ao monstro com a arma em mãos. A lâmina de ouro imperial reluzia mesmo sobre a tinta preta quando golpeou quase que perfeitamente contra a união da pele com a cabeça de lobo. Esse golpe não seria suficiente para matá-lo – ainda que a cabeça ficasse pendurada apenas por um fio – mas Aibek tratou de resolver isso com um bote carnificioso.

Sacou Ostium. Golpes vazios apenas para finalizar os três monstros, que viam a vida se esvair de seus corpos lentamente.

Não era piedosa, Lilith Doutzen. Apenas egoísta o suficiente para querer ser a única sofrendo no topo da montanha. Mas seu luto logo deu lugar à curiosidade. Um totem de mais ou menos o dobro da altura da garota se destacava mais acima do campo de batalha.

Sem muitas ideias do que fazer, bateu o pé contra o chão outra vez para que três estacas eclodissem sob a base do grande pilar, arrancando-o do solo apenas para tombar como uma velha árvore influenciada pelo vento.

ever since the day we died i've got nothing left to lose

Sob as nuvens que circundavam o Monte Valin, a fênix de gelo sobrevoou sua cabeça antes de pousar sobre uma das estacas. Majestosa como deveria ser, conseguiu completa atenção de sua salvadora.

— Cumpriu seu papel.
— Normalmente faço isso.
— No entanto, não parece feliz.
— Problemas no paraíso. Por que fez isso tudo?
— Essa… coisa que construíram. Estava me matando.
— Você não morre. Bom, morre mas, vocês renascem das… não sei se cinzas é sua coisa.

A criofênix negou.

— Neve.
— Por isso o Canadá. Já acabamos?
— Preciso de um favor.
— Claro que precisa.
— Esse frio não durará muito tempo. Preciso me alojar.
— Dizem que o Alasca é um bom local pra isso.
— E você?
— Eu o quê?
— Vai me levar até lá
— Por que eu faria isso?
— Tenho algo para dar em troca.
— Como vou te levar para outro lugar? Estamos no verão.

O pássaro de gelo investiu contra a filha de Despina, mas ela não se moveu. Por isso, o bicho desapareceu, deixando apenas uma sensação gelada em seu peito, junto com o brilho de Enfraezar.

“Ah, assim.”

now i'm lost somewhere and i know you want me

Sobre as nuvens, o avião a carregava de volta para Nova Iorque. Passou o batom da Givenchy contra seus lábios. Sorriu para o pequeno espelho do banheiro. Voltou para sua poltrona logo que ouviu o comandante indicar o pouso em alguns minutos.

Com o pequeno aparelho celular em mãos, buscou pelo contato. Não sabia se queria ouvir o que tinha para dizer, nem se queria falar tudo o que precisava antes que explodisse.

Mesmo assim, digitou a mensagem que mudaria tudo dali para frente.

“Preciso de sua ajuda.”

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Publicado por Ex-Staff 014 Sex Out 15 2021, 19:54

avaliação
Uma coisa que eu gosto muito nos seus textos é que tem muito diálogo, organizados de uma forma que realmente insere a gente na narração. Eu me sinto muito entretida lendo qualquer coisa que você escreve, e eu pensei que deveria te dar os créditos por isso. Sua narração é muito boa, seu domínio sobre a escrita é impressionante e sua trama é sempre muito interessante.

Parabéns!

pontuação— Coerência: 40 de 40
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